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"Vila Nova de Cerveira " - o Nome da cidade e A lenda do Cervo

Faz alguns anos, muitos anos, que o meu pai nos dizia..."Pra semana vamos a Espanha..."


Naquela altura ficava todo excitado por ir a Espanha...um outro País, ainda com as fronteiras fechadas, mas onde íamos comprar brinquedos e chocolates a Vigo e a Tuy.


Na altura iamos pela nacional o que demorava horas. Hoje em dia chegamos rápido e não parece, mas passamos de um lado ao outro sem saber bem onde estamos, (o meu filho com 4 anos passou a 1ª vez a fronteira já em autoestrada...acordei-o e disse...filho já estamos em Espanha...ele olhou à volta e exclamou...Espanha!!! mas isto é tudo igual a Portugal e voltou a adormecer).

Mas naquele tempo, na alturas das fronteiras sabíamos bem que estávamos a passar para outro País. A maior seca eram as 2 horas que passávamos na fila de transito, com policia de um lado e do outro da fronteira que era uma ponte metálica que atravessava o rio. Quando passávamos a placa que dizia Espanha, sabíamos que já estávamos do outro lado e eu babava pelos brinquedos novos em Vigo e pelos chocolates daquela lojinha da esquina em Tuy que tinha os melhores chocolates e caramelos.


Almoçávamos sempre nessa localidade num restaurante que se chamava "Cavalo furado". Nunca comia como em Portugal, mas ali comíamos e o menu era o mais parecido com o português.


Lembro de uma vez que olhei para a lista e vi "pollo"...e eu....alto é mesmo isto que eu quero..."Polvo"...


Apareceu-me um prato com "frango"...."lá se foi o meu Polvo e vou ter de levar com frango".

Daí partíamos para Vigo ao "El Corte Inglês" e eu só queria chegar ao 5º andar...babava-me todo a ver aqueles brinquedos que cá em Portugal naquela altura não tínhamos (estamos a falar bem depois do 25 de Abril).


Tudo isto para dizer, que na altura não havia autoestrada, sempre nacional e eu costumava ir sempre atento às montanhas que iam crescendo do lado direito da estrada. A certa altura lá via eu o veado no cimo do monte numa determinada localidade e dizia ao meu pai..."olha o Veado...estamos perto...ele sorria e dizia que faltava pouco...mas ainda tínhamos de andar pra carago".

Pela história/lenda aquilo que sempre vi no cimo do monte, não era um veado, mas sim a escultura de um cervo, um Rei Cervo que deu nome aquela terra, Vila Nova de Cerveira e a uma Lenda que passo a descrever...

Há muitos, muitos anos, num lugar de montes e vales repletos de vegetação e ervas frescas, mesmo junto a um grande e belíssimo curso de rio, estabeleceu-se um grande bando de Cervos. Naquele lugar ainda não tinham passado os homens, que já ocupavam as terras do interior. Os homens não davam descanso aos animais, principalmente aos Cervos, organizando grandes caçadas que eram os seus preferidos para os banquetes.


Os Cervos, perseguidos pelos homens, encontraram nos altos, próximos do rio, o esconderijo e o alimento que precisavam para sobreviverem. Eram tantos os que fugiam para este local de seguro, que tiveram que se organizar.


Escolheram o Cervo mais forte e belo de todo o bando para seu chefe.

Acreditavam todos que, por ser tão grande, forte e belo, o seu chefe só podia vir do Olimpo, ali onde os deuses moravam! E se não o adoravam como Deus, pelo menos respeitavam-no como um Rei!

O grande Cervo liderava a resolução de todos os problemas do bando, escolhia os pastos, organizava as caminhadas pelos caminhos mais perigosos e a sua autoridade era respeitada por todos os outros.


Um dia, ao subir ao mais alto dos montes, colocou-se em cima de um penedo e olhou o longo vale lá ao fundo. Voltando o pescoço para as encostas, sentiu orgulho em ver os seu cervos a pastar em segurança e em tão belo lugar. Nesse mesmo dia resolveu convocar todos os que o serviam para lhes comunicar os seus propósitos:


É pá os Cervos falavam...adiante...


- Meus caros Cervos, chamei-vos aqui para vos dizer que é tempo de sermos nós a mandar neste local. Por isso vamos edificar aqui um reino novo, do qual seremos os únicos habitantes! Fugimos para aqui dos homens que nos perseguem. Mas agora é preciso lutar, e nós lutaremos para que estes montes e vales sejam nossos, e nenhum homem possa aqui entrar!

Todos os Cervos, apoiaram a proposta:

-Viva o Rei dos Cervos! Lutaremos juntos contigo! Os outros também falavam...continuando...


Tanto alguns animais, como homens mais corajosos, todos temiam entrar nesses montes, vindo a chamar àquele lugar «Terra de Cervaria»


O Rei Cervo, vendo o sucesso do seu reino, julgou-se invencível. Os mais novos iam crescendo em profunda reverência e devoção pelo Rei, ao escutarem, da boca dos mais velhos, as façanhas que ele fizera no passado. Perante tal devoção e obediência, o Rei Cervo, para além de invencível, começou a convencer-se que também era imortal.


Foram anos e anos de luta, que esgotaram as energias de todos e não pouparam as vidas de um lado e do outro.


Vieram os celtas, os romanos, os mouros, todos tentaram aí a sua sorte. Aos poucos os Cervos foram caindo, morrendo, tombados pelos ataques dos inimigos, mas sempre protegendo o seu "Reino".


Aquando da reconquista cristã e da formação do reino de Portugal, já só o velho Rei Cervo restava.


Um certo dia, um nobre cavaleiro português, habituado à conquista, resolveu que também aquele canto do Condado Portucalense seria terra de Portugal. Era necessário conquistá-lo ao Rei Cervo? Pois então ia lutar com ele. Ousado e consciente da sua valentia (Parece que burro e inconsciente), desafiou o Rei Cervo para uma luta, frente a frente. O Rei Cervo aceitou o desafio. Aquele era o seu reino e não era um jovem, por mais corajoso que fosse, que o iria vencer. Não era ele da estirpe dos deuses e imortal?


Combinado o dia (parece que os dois falavam Português), lá apareceu o valente fidalgo, cavaleiro de Henrique.

Pelos vistos o Rei Cervo de burro não tinha nada e escolheu um campo de batalha povoado de arvoredos e ervas daninhas, ao fundo de umas pequenas valas que ali existiam, um local a que chamavam "Valinhas". Impetuoso e digo eu...armado em cagão, o cavaleiro forçou a montada para enfrentar o velho Rei.


Ainda hoje não se sabe que artimanhas usou o Rei Cervo, o que se sabe é que apesar da coragem e força do jovem cavaleiro português, foi o velho Rei que venceu o combate, dando a morte ao valente cagão.


Vitorioso, lá regressou o Rei Cervo ao alto do monte, carregando consigo a bandeira, que conquistara ao fidalgo cavaleiro. Ali, solitário, hasteava bem alto o brasão presente na bandeira para que todos soubessem a quem pertencia a vitória. Mas numa coisa estava errada o velho rei...também por ele passavam os anos.


Havia-se julgado imortal, mas, com o tempo, depois de tanta luta e tanto comando, as forças começavam a faltar-lhe. Para o não revelar aos pretendentes do seu reinado, pelo qual tanto lutara, foi-se escondendo aos olhares curiosos daqueles que, ao longe, o apontavam como Rei e Senhor daquele lugar.


Com o passar dos anos, os curiosos começaram a questionar-se sobre as ausências, cada vez mais frequentes do velho Rei Cervo. Até que deixaram de o ver. O que seria dele? A pergunta era fácil de fazer, mas a resposta não era assim tão fácil, pois não havia quem tivesse a coragem de ir procurar o Rei Cervo.


Até que uns caçadores mais afoitos, (ou alucinados digo eu), atreveram-se na região da «Cervaria», tão desejada e apetecida.


Afoitos ou alucinados, lá andaram eles pelo monte, quando, no meio da mata verde e florida, encontraram sem vida o velho Rei Cervo, prostrado por terra, com o corpo numa chaga, cheio de feridas malignas! Mas apesar de prostrado, segurava as armas do cavaleiro vencido, o escudo das cinco quinas.


Terminava aqui o reinado do Rei Cervo.


Desaparecido o Rei Cervo, os homens vieram logo de seguida, confiantes na riqueza daquelas terras pelas quais tão ansiosamente lutaram. No lugar onde o Rei Cervo ostentava o garbo a todo o vale, construíram uma cidade, à qual puseram o nome de Cerveira. Mas querendo honrar tão digno antepassado no senhorio daquelas terras, e para que ficasse na memória de todos, desenharam nas armas da sua cidade um cervo em campo verde, destacado, sustentando nas suas patas, bem visíveis e bem presas, um escudo com as quinas portuguesas.


Essa terra chama-se hoje Vila Nova de Cerveira e o tal Veado que eu todas as vezes procurava no cimo do monte quando ia a Espanha, era e é afinal um monumento a este Rei Cervo.


Aqui fica a história do nome de Cerveira e sua Lenda....e Visitem porque é um local muito mas mesmo muito bonito.


Agradecimentos ao Departamento de Cultura da CM de Vila Nova de Cerveira pela gentileza de enviar esta Lenda/Nome desta fantástica cidade.

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