"Vila Verde" - Lenda da Senhora que passou
Hoje vou falar da Lenda do Rio Homem e da localidade de Passô em Vila Verde. Gentilmente enviado pela Biblioteca de Vila Verde
Não se sabe porquê nem de onde vinha, mas há muitos anos atrás, uma tal de Joana acompanhada pelo seu pai viajava estrada fora.
Depois de muito caminharem, cansados, encontraram um rochedo que fazia uma boa sombra e resolveram parar.
Ali, apesar da sombra, não havia água e Joana tinha muita sede, até porque a que levavam consigo já tinha acabado há algum tempo.
Enquanto o seu pai descansava, Joana decidiu explorar aquele local e procurar um riacho onde pudesse beber água. Quando encontrou um os seus olhos iluminaram-se de alegria…bebeu toda a água que lhe apeteceu e também se refrescou (Não tenham pensamentos esquisitos :) ).
De repente, enquanto se refrescava, uma voz masculina disse-lhe baixinho:
- Por vós, transformar-me-ia num rio se necessário fosse!
A jovem, assustada, levantou-se, olhou em volta e disse:- Ia jurar que ouvi uma voz de homem…mas não está aqui ninguém!
- Enganai-vos… Também eu estou aqui e bem perto de vós! Olhai para baixo, para a minha água.
A Joana já se estava a passar, a achar que estava louca, afinal tinha bebido água e não vinho e nem tinha fumado nada esquisito, naquele tempo não havia…continuando…
- Um riacho a falar como um homem?
- Não só pode falar como também amar. Sim…sou eu o riacho que vos fala. Mas, Joana continuou um pouco assustada e o riacho explicou:
- Qualquer riacho como eu, quando é descoberto pela primeira vez e a pessoa que o descobre é uma donzela, pode falar… ouvir… e até amar! Para isso basta que os vossos lábios toquem na minha água e me digam baixinho: amor!
A donzela, apesar de desconfiada, lá experimentou o que o riacho tinha dito. De repente, aparece, muito preocupado, o pai dela, pensando que ela se tinha perdido. A jovem não contou nada do que tinha acontecido a seu pai. E lado a lado continuaram a sua viagem, Joana a pensar no riacho mas lá continuaram vá-se lá saber para onde. Mas estranhamente, a partir daquele local um ruído diferente os perseguia.
Quando caiu a noite, os viajantes procuraram um lugar para dormir.
Joana não parava de pensar naquele encontro e desejava tanto saber se o riacho tinha cumprido a sua promessa e se viera atrás dela até ali. Aquele ruído não poderia ser outra coisa…Com muito cuidado para não acordar seu pai, saiu e foi procurar o riacho.
Qual não foi o seu espanto ao ver que o riacho realmente os seguiu e era agora um belo rio.
Contudo a donzela continuou curiosa e questionou o rio:
- Tendes só voz? Não tendes figura?
O rio perguntou-lhe:
- Gostaríeis de me ver?
- Gostaria muito, muito mesmo!
Então o rio realizou o desejo da sua amada donzela:
- Aqui estou!
“Normalmente são sapos a transformar-se em principes, neste caso foi um riacho…adiante…”
Enquanto Joana contemplava o seu rio, surgiu o seu pai muito zangado:
- JOANA! Atraiçoaste-me! Vieste ter com um homem!
- Senhor meu pai, eu posso explicar. Mas ele nem sequer a quis ouvir:
- Não quero explicações! Vamos! Já não terás descanso até ao final da viagem!
“Vá-se lá saber para onde.”
O rio feito homem destroçado ficou ali a observar a linda donzela que se afastava.
Diz-se que, no dia seguinte, muita gente ouviu uma voz estranha vinda dos lados do rio e que perguntava com ansiedade:
- A senhora passou por aqui?... Respondei-me, por favor! Passou por aqui? Passou?...
Esta pergunta, mil vezes repetida e ouvida por alguns que já não são deste mundo, deu o nome àquela localidade, ficando a chamar-se Passô. E o rio que a banha, tem o nome de Rio Homem!
“Nunca mais se soube de Joana, mas provavelmente o rio Homem continua a procurar a sua donzela.”
